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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Santa Maria ainda está longe de retornar a sua rotina

 

Sinais de luto estão em fitas pretas, eventos festivos cancelados e sofrimento silencioso

Santa Maria ainda está longe de retornar a sua rotina Jean Pimentel/Agencia RBS
 
Dois dias depois da tragédia em Santa Maria que chocou o mundo, já não se veem aglomerações de familiares em prantos, ruas bloqueadas, veículos oficiais zunindo com as sirenes ligadas ou cortejos fúnebres.
Por trás da falsa aparência de normalidade, porém, a cidade ainda está longe de retomar a rotina. Os sinais do luto estão nas fitas pretas que pendem das antenas de automóveis e das fachadas de lojas, no cancelamento de eventos festivos e no sofrimento silencioso que, segundo especialistas, vai demorar muito tempo para ser amenizado.
— O que aconteceu é uma marca que vai ficar na história de toda esta geração. Mesmo quem não perdeu alguém próximo fará parte para sempre da geração na qual ocorreu a maior tragédia já vista no Estado — avalia a psicanalista de Santa Maria e membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa) Sílvia Ferreira.
O tempo que a população diretamente envolvida pelo drama na boate vai levar para superar a fase mais intensa do luto pode variar, mas pode chegar a cerca de dois anos, diz Sílvia. No período agudo da dor, é importante que as pessoas mais próximas se coloquem à disposição para ouvir o que sobreviventes ou familiares e amigos de vítimas quiserem desabafar.
— A melhor saída são os outros — resume o psicanalista Luís Fernando Lofrano de Oliveira.
Para Lofrano, enquanto para o indivíduo a melhor alternativa é buscar companhia, para a comunidade ações simbólicas como a marcha realizada na segunda-feira ajudam a lidar aos poucos com o sentimento de perda. Por isso, apesar de a cidade já não revelar de maneira tão ostensiva os sinais da tragédia, a vida ainda custará a retomar seu curso.
As atividades acadêmicas foram suspensas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que perdeu mais de uma centena de estudantes. Eventos ligados ao Carnaval foram cancelados, além de festas e shows. Enquanto isso, profissionais ligados à psicologia e à psiquiatria se concentram em pontos de atendimento gratuito para oferecer conforto à população abalada.
Ontem, por exemplo, foi aberto um local de acolhimento na Clínica de Estudos de Intervenções em Psicologia (Ceip). Essas medidas, porém, são apenas os primeiros passos de um longo processo para milhares de pessoas afetadas pelo drama conseguirem retomar seu cotidiano — ainda desfeito sob a aparência de normalidade nas ruas de onde ocorreu o maior desastre já visto no Rio Grande do Sul.

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