"Não tenho parte nisso", afirma sócio de boate em depoimento à polícia

Sócio se apresentou à Polícia Civil de Santa Maria na tarde desta segunda-feira Foto: Emerson Souza / Agencia RBS

Mauro Hoffmann procurou se eximir de qualquer responsabilidade na tragédia

O sócio da boate Kiss preso na tarde de hoje, Mauro Hoffmann, depôs durante três horas e meia e procurou, o tempo todo, se eximir de qualquer responsabilidade sobre o incêndio que resultou na trágica morte de 231 pessoas em Santa Maria.
— Não tenho parte nisso. Não contratava e nem demitia pessoas. Não tinha poder gerencial, era apenas sócio financeiro da Kiss — declarou aos policiais civis.
Mauro, conhecido como Maurinho, está com prisão temporária decretada e se apresentou na Delegacia Regional de Polícia Civil em Santa Maria às 14h15min, acompanhado do seu defensor, Mário Cipriani. Ele admitiu ter 50% de ações na danceteria Kiss, mas ressaltou que administra pessoalmente apenas o seu outro e maior empreendimento, a danceteria Absinto Hall.

Maurinho declarou que não contratou a banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na noite da tragédia. Por isso, garante não saber o que originou o incêndio e se fogos de artifício foram usados dentro da boate, como informam testemunhas. Ele também afirmou ignorar se o equipamento de vídeo monitoramento da boate funcionava.
Conforme o advogado Cipriani, Maurinho disse que pouco frequentava a Kiss e deixava tudo — contratações, organizações e administração — por conta do seu sócio majoritário, Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko. Kiko e sua irmã eram donos dos outros 50% do capital acionário da danceteria.
Maurinho afirmou que, baseado na palavra de Kiko, considera que a Kiss atuava dentro da lei. Isso inclui o alvará de funcionamento. Quanto ao Plano de Prevenção e Controle de Incêndios, Maurinho disse ter sido informado pelo sócio de que o documento estava vencido, mas foi requisitada renovação ao Corpo de Bombeiros. Os bombeiros não teriam feito ainda a vistoria necessária para aprovar novo plano, mas mesmo assim a boate teria permissão para funcionar.
Maurinho declarou ainda que na sua outra boate, a Absinto, o uso de sputniks ou sinalizadores (com uso de pólvora) são expressamente proibidos. Ele não soube informar porque isso foi tolerado na Kiss, mas deu uma pista: "nem sempre as bandas informam aos donos do estabelecimento o que vão fazer no show".
Conforme o seu advogado, Maurinho disse estar "profundamente comovido" com a tragédia e assegura que tentou ajudar pessoas a se salvarem, indo à Kiss assim que soube do incêndio.
Logo após o depoimento, Maurinho foi levado ao Presídio Regional de Santa Maria. Ele ficará numa cela em separado, porque a sua prisão é temporária. O advogado disse que vai pedir o relaxamento de prisão à Justiça.